01/08/2016
Doação de órgãos e tecidos: tire suas dúvidas
Um gesto de amor, uma atitude que pode salvar vidas. Assim mesmo, vidas no plural! Você sabia que uma única doação de órgãos pode ajudar a salvar até oito vidas? No caso da doação de tecidos, são cerca de 50 vidas! Para muitas pessoas, o transplante é a única esperança, já que para algumas doenças ele é o único tratamento viável. Então, se você ainda tem dúvidas sobre o transplante de órgão e tecidos, que tal conferir algumas das principais questões relacionadas não só ao transplante propriamente dito, mas a todo o processo de doação? Confira!
Quais órgãos e tecidos podem ser doados?
Os órgãos que podem ser transplantados são: coração, rins, pulmões, fígado, pâncreas e intestinos. Já os tecidos são: córneas, pele, válvulas cardíacas, tendões e ossos. É sempre importante lembrar que eles só podem ser retirados enquanto houver circulação sanguínea no corpo do paciente. Desta forma, após a confirmação do diagnóstico de morte encefálica, o coração do falecido ainda estará batendo. Após a parada do coração, é possível doar os seguintes tecidos: córneas, pele, válvulas cardíacas, tendões e ossos. No entanto, o transplante só será bem-sucedido se obedecer ao tempo duração que cada órgão possui ao não ter mais a circulação do sangue.
O que é a morte encefálica?
Diferente do coma, quando o paciente tem atividade elétrica cerebral e circulação de sangue no cérebro, a morte encefálica é a completa e irreversível perda de todas as funções do cérebro. Isto significa que, como resultado de lesão, como um traumatismo craniano grave ou acidente vascular cerebral extenso, o sangue que irriga o cérebro é bloqueado e, assim, todas as atividades cerebrais são interrompidas. Sem cérebro não há vida.
Como é realizado o diagnóstico de morte encefálica?
Para confirmar que o paciente não apresenta mais qualquer atividade neurológica, segundo a legislação vigente no Brasil, é necessário realizar dois exames clínicos e um gráfico (como um Doppler dos vasos cerebrais ou eletroencefalogramas). Essas análises são realizadas por diferentes profissionais, de acordo com resolução do Conselho Federal de Medicina, e desta forma a morte encefálica pode ser diagnosticada. A família deve ser informada da abertura desse processo de investigação e do resultado de cada etapa, podendo acompanhar o exame gráfico.
Por que mesmo com a morte encefálica o coração continua batendo?
É muito comum que a morte encefálica não seja compreendida inicialmente, quando se percebe que o coração do paciente ainda está batendo. Isso acontece porque durante a realização dos testes um aparelho, chamado ventilador, fornece oxigênio para o paciente e, simultaneamente, ele recebe remédios para aumentar a pressão arterial. É fundamental ressaltar que os médicos sempre farão o possível para salvar uma vida. Qualquer diagnóstico será divulgado com muita responsabilidade e somente após todas as possibilidades se esgotarem.
Quais são as etapas da doação e do transplante?
Para que uma morte encefálica seja confirmada é necessário que sejam realizados três exames durante intervalos de tempo variáveis, próprios para determinadas faixas etárias. São feitos dois exames clínicos e um gráfico (como um Doppler dos vasos cerebrais ou eletroencefalograma). Essas análises são realizadas por pelo menos dois médicos não pertencentes à equipe de transplante, de acordo com resolução do Conselho Federal de Medicina, e assim a morte encefálica pode ser diagnosticada. A família pode acompanhar o método complementar, que vai demonstrar ausência de fluxo ou atividade elétrica, dependendo do exame escolhido.
Quem pode doar?
Qualquer pessoa pode ser doadora de órgãos e tecidos. O mais importante é manifestar o desejo para a família, pois somente ela poderá autorizar o procedimento. Porém, existem critérios de contraindicação absoluta para a doação, como indivíduos HIV positivo, que tenham câncer ou tuberculose ativa. O intuito é garantir que não haja transmissão de alguma doença do doador para o receptor. Há, ainda, contraindicações para cada órgão. Uma pessoa que faça hemodiálise, por exemplo, naturalmente não vai poder ser doador de rim, mas pode ser um doador de fígado, se a função hepática dele for normal. Por isso, cada paciente é avaliado globalmente, de órgão a órgão.
A família precisa autorizar a doação?
Sim. A legislação brasileira determina que somente familiares diretos podem autorizar a doação de órgãos de pacientes com morte encefálica. Não existe nenhum documento que possa ser deixado em vida para garantir a doação após a morte. Por isso, é muito importante expressar o seu desejo. É a melhor forma de fazer com que os familiares conheçam a vontade uns dos outros.
Uma das formas de fazer isso é se cadastrar no Doe+Vida. A ação possui um site específico – www.doemaisvida.com.br – onde as pessoas podem se cadastrar e imprimir um cartão virtual de doador, além, claro, de obter informações. Ao preencher o cadastro, as informações ficarão armazenadas e, em um momento de dor e pesar, poderão ajudar a lembrar quem você ama da sua vontade de ser um doador.
Como funciona a lista de espera?
O transplante de órgãos é o único tratamento possível para algumas doenças. Nesses casos, o paciente que necessita do transplante é colocado numa lista de espera, que faz parte do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), do Ministério da Saúde. Nessa lista são colocadas todas as informações relevantes sobre o quadro clínico da pessoa.
A lista única apresenta uma ordem cronológica de inscrição, além de ser separada por órgãos, tipos sanguíneos e outras especificações técnicas importantes. Dessa forma, a distribuição de órgãos não é somente pelo tempo de inscrição na fila, mas também depende de diversos critérios específicos usados com o objetivo de reduzir o tempo de espera na lista e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes que aguardam o procedimento. Alguns desses critérios são a idade e a gravidade de estado do paciente.
De acordo com o novo regulamento do Sistema Nacional de Transplantes, pessoas com até 18 anos têm prioridade para receber órgãos de doadores na mesma faixa etária. Além disso, todas as crianças e adolescentes podem se inscrever na lista para transplante de rim, mesmo antes de entrarem em algum tipo de diálise. Segundo o Ministério da Saúde, isso se deve à maior expectativa de vida desses pacientes. Os doadores que tenham alguma doença transmissível também poderão doar para pacientes que tenham o mesmo vírus (no caso de hepatite B e C). O tempo de espera não é o mesmo para todos os órgãos e tecidos.
Como é a vida pós-transplante?
Em muitos casos, o transplantado volta a ter uma vida normal, mas terá responsabilidades a cumprir. Os primeiros dias são fundamentais no pós-operatório do transplante, já que representam a adaptação do organismo ao novo órgão. Neste período o paciente ficará internado na unidade hospitalar sob cuidados especiais e multidisciplinares. A evolução depende de cada organismo e da condição clínica prévia em que o paciente foi submetido ao transplante. No entanto, o cuidado mais importante será com as medicações imunossupressoras, que ajudam a impedir a rejeição do órgão recebido.